iTour Talk Show – Turismo e Desenvolvimento Econômico (Português).

Keila Mota Study , , , ,
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Apresentam-se aqui nesta postagem as perguntas e respostas na forma escrita do iTour Talk Show realizado com a professora Dra. Myrtis Arrais de Souza, em janeiro de 2018, que tem doutorado en Planificación Territorial y Desarrollo Regional – Universidad de Barcelona (2003) Diploma de Estudos Avançados – DEA, doutorado em Integración y Desarrollo Económico – Universidad Autónoma de Madri – UAM (2014), título de doutora reconhecido pela Universidade Federal do Ceará, em dezembro de 2016.

 

iTour: O que é Desenvolvimento Econômico?

Dra. Myrtis: As definições mais antigas de desenvolvimento econômico incluíam basicamente o crescimento econômico como sinônimo, ou seja, se o produto da economia (bens e serviços) estivesse crescendo teríamos desenvolvimento econômico. Isto significava que a medição em termos estatísticos, se restringia somente aos números, condição indispensável, mas insuficiente.

Nas últimas décadas foram incluídas no conceito as definições de desenvolvimento humano sustentável que incorpora as dimensões sociais, políticas e culturais. Com maior peso ao conhecimento das circunstancias específicas na hora de adotar políticas, entre elas, a desigualdade social.

Definimos, assim, desenvolvimento humano, para melhor estruturar a definição de desenvolvimento econômico: foi proposto no início dos anos 90 pelo Programa as Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) seguindo a Amartya Sen (Premio Nobel de Economia 1998) que afirma “Desenvolvimento Humano é a geração de capacidades e ampliação das oportunidades das pessoas, expressadas em cinco dimensões fundamentais – igualdade, sustentabilidade, autodeterminação, cooperação e segurança”.

 

iTour: E o que seria o Desenvolvimento Sustentável?

Dra. Myrtis: É aquele que conserva e realimenta a fonte dos recursos naturais, que torna as sociedades viáveis, e que promete a repartição justa dos benefícios. Deve estar ancorado sobre os pilares econômico, social e meio-ambiental.

Finalmente o desenvolvimento econômico local ou endógeno, conceito mais moderno, significa aumento da produtividade (produção por pessoas) em todos os setores produtivos, diversificação da produção e promoção da satisfação de novas demandas de produtos e/ou serviços. Para alcançá-lo necessitamos de capacidade, integração, flexibilidade de organização da produção, qualificação dos recursos humanos e empoderamento da sociedade local.

 

iTour: Como promover o Desenvolvimento Econômico através do Turismo?

Dra. Myrtis: Utilizando as dimensões do desenvolvimento sustentável anteriormente definido, poderemos através do turismo, que hoje é a terceira maior “indústria” de exportações do mundo, produzir crescimento econômico inclusivo; preservar e enriquecer o meio ambiente, reduzindo as mudanças climáticas; além de celebrar e preservar a identidade e culturas tangível e intangível dos lugares receptivos turísticos.

O turismo traz paz, esperança, compreensão e prosperidade aos lugares visitados, e também é uma estratégia econômica para redução da pobreza. Este enfoque está presente nas declarações de políticas públicas do Brasil (e internacionais), desde 2002, quando a  Organização Mundial do Turismo (OMT), colocou no centro de sua estratégia o turismo sustentável.

O turismo para contribuir ao desenvolvimento deve incluir às populações locais nos seus resultados, atendendo aos requisitos do desenvolvimento sustentável (poupança no consumo de energia, políticas públicas para as atividades turísticas, padrões salariais compatíveis e adequados, condições de trabalho dignas e conservação da vida selvagem).

Uma recomendação implícita é que a atividade turística tenha vínculos fortes com as outras áreas econômicas para garantir a sua sustentabilidade a longo prazo. E também devemos enfatizar que a qualidade dos recursos humanos seja a melhor e mais adequada possível para atendimento aos turísticas.

O planejamento é parte fundamental e deve incluir as comunidades locais, com controle permanente dos seus resultados.

 

iTour: Políticas Públicas em Turismo influenciam o Desenvolvimento Econômico?

Dra. Myrtis: O planejamento das políticas públicas para o turismo e sua consequente contribuição ao desenvolvimento econômico das localidades destino, deve incluir todas as instituições do Estado envolvidas no planejamento do desenvolvimento. Deve ser, desta forma, uma ação multidisciplinar e interinstitucional que satisfaça a todos os componentes básicos da atividade, ou seja, atividades e pontos de interesse, infraestrutura de serviços, planta turística, meios de comunicação, transporte, elementos institucionais, entre outros.

A colaboração das empresas privadas é essencial no processo de desenho das políticas públicas para o turismo, pois as empresas são as que põem em funcionamento os equipamentos e serviços nos destinos turísticos. Ao Estado, por outro lado, cabe promover o planejamento, em conjunto com os empresários e representantes locais, adequar a legislação necessária ao desenvolvimento de infraestrutura básica, que proporcionará o bem-estar da população residente e aos turistas, manutenção da proteção e conservação do patrimônio ambiental (natural, psicossocial e cultural) e criação das boas condições que facilitem o funcionamento dos serviços e equipamentos turísticos.

 

iTour: Cite um exemplo prático de Desenvolvimento Econômico com apoio do Turismo?

Dra. Myrtis: Alguns autores consideram que o turismo tem um importante papel no desenvolvimento socioeconômico e político de alguns países, podendo, como já dissemos contribuir ao intercâmbio cultural, fomentar as relações entre os povos, favorecer a paz, criar consciência a respeito da diversidade cultural e as diferentes formas de vida. Por outro lado, em muitos destinos turísticos podemos observar também os efeitos negativos da atividade turística sobre o meio ambiente, a cultura local, a sociedade, e também na economia, se as fases de  planejamento, desenho de políticas públicas e monitoramento não forem atendidas convenientemente.

Entre os países mais citados pela literatura com resultados mais positivos em termos econômicos devido a atividade turística, apesar de ainda terem muito em que avançar no sentido do desenvolvimento econômico sustentável que antes descrevemos, listamos os seguintes, com descrições apoiadas em pesquisa da web.

  • Gambia: localizado na África ocidental, é o menor país do continente, sendo menor que o estado de Sergipe no Brasil, com uma população de 2.039 milhões, da qual 94% é muçulmana desde 2016, quando passou a necessitar de recursos para investimentos. Nesta época o Catar e Emirados Árabes, países majoritariamente muçulmanos, e ricos do Golfo Pérsico, entraram como investidores. O turismo responde por 20% do PIB, mas a principal atividade econômica é a agricultura. As praias e os parques de animais atraem milhares de turistas. Tornou-se independente da Coroa Britânica em 24 de abril de 2007. Entre 2001-2002 obteve um ciclo completo de eleições presidenciais, considerado por observadores internacionais como livres e transparentes.

 

  • Ilhas do Caribe: nas ilhas caribenhas o turismo é um dos setores que mais cresce em todo o mundo, e sua rápida expansão tem sido, ou pelo menos deveria ser considerada, uma possibilidade de desenvolvimento sustentável aos países caribenhos. Atualmente o turismo é a atividade local mais competitiva. Algumas ilhas, como Bahamas e Porto Rico, possuem um mercado de visitantes tradicionalmente americano. Barbados e Martinica atraem turistas britânicos e franceses. Já os mercados líderes no turismo são a República Dominicana, as Bahamas, Porto Rico, Jamaica e Cuba. O turismo é a atividade maior empregadora da região, e de importância crítica para a região caribenha, que é considerada mais dependente da atividade turística do que qualquer outra região. Em torno de 12 milhões de turistas visitam a Região por ano.

 

  • Ilhas Seychelles: nas 115 ilhas de Seychelles a população de mais de 87 mil seychellois reflete suas raízes multiétnicas. Tradicionalmente as ilhas atraem uma grande diversidade de pessoas de todos os cantos do planeta, permitindo que cada país do mundo esteja representado nessa mistura cultural, trazendo influências e contribuições para a sociedade de Seychelles. É interessante conversar com os seychellois e tentar compreender o seu modo de vida tão distante da agitação diária de outras nações. Desde a independência das Seychelles, em 1976, o PIB per capita expandiu-se para cerca de sete vezes o antigo nível de quase-subsistência. O crescimento tem sido conduzido pelo setor turístico, que emprega cerca de 30% da mão de obra e proporciona mais de 70% dos ganhos da moeda forte, e pela pesca do atum.

 

  • Ilhas Maldivas no oceano índico: A República das Maldivas é um país composto por 1.196 ilhas, sendo apenas 203 habitadas, espalhadas pelo Oceano Índico, a sul da Ásia, sudoeste do Sri Lanka e da Índia. As Ilhas Maldivas estão agrupadas em 26 atóis (ilha oceânica em forma de anel). As atividades relacionadas com o turismo têm crescido bastante. Com o seu desenvolvimento tem -se criado empregos e a gerado oportunidades noutras áreas, como na indústria, através do conhecido efeito multiplicador. Atualmente, além da atividade pesqueira tradicional, é a partir do turismo que entra mais moeda estrangeira nas Maldivas, 28% do PIB. Existem mais de 100 centros/resorts turísticos que operaram e são recebidos anualmente mais de 500.000 turistas estrangeiros.

  • Cyprus ou Ilha de Chipre: é uma ilha situada no mar Egeu oriental ao sul da Turquia. É a terceira maior ilha do Mediterrâneo e um dos destinos turísticos mais populares na região, atraindo mais de 2,4 milhões de turistas por ano. A antiga colônia britânica, que ganhou a independência do Reino Unido em 1960. Desde a invasão turca de Chipre em 1974, Chipre foi dividido por uma ocupação militar turca de aproximadamente um terço do norte da ilha. Desde 1983, o território ocupado declarou-se como a República Turca de Chipre do Norte que só é reconhecida pela República da Turquia. A República de Chipre é um país plenamente desenvolvido e tem sido um membro da União Europeia desde 1 de maio de 2004. A área da República sob controle do governo grecocipriota tem uma economia dominada pelo setor de serviços, o qual corresponde a 4/5 do PIB Os setores de turismo, o financeiro e o de administração de propriedades são os mais importantes. Taxas oscilantes de crescimento durante a década passada refletem a dependência econômica do turismo, atividade cuja rentabilidade varia por conta da instabilidade política da região e as condições econômicas da Europa Ocidental. Em 2008 Chipre foi classificado pelo Fundo Monetário como uma das 32 mais prósperas economias do mundo. Com uma presença importante do sector industrial que sustenta a maior parte das exportações e emprega ao 25% da população. Cerca de 70% depende do sector serviços, e, em concreto, do turismo. A frota de navios com matrícula cipriota é a quarta mais importante do mundo e reporta volumosos rendimentos.

 

  • Papua Nova Guiné: situado na Oceania, ocupa a segunda maior ilha do planeta (Nova Guiné). Seu território está localizado ao norte da Austrália e possui uma única fronteira terrestre: a Indonésia, a oeste. O país já foi ocupado por diferentes nações: Espanha, Portugal, Holanda, Alemanha, Reino Unido, Austrália e Japão. A independência foi obtida em 1975 e a nação passou a integrar a Comunidade Britânica – bloco formado pelo Reino Unido e suas ex-colônias. A agricultura é responsável por captar mais de 70% da população economicamente ativa no país, em especial a de subsistência. Esse fato influencia na distribuição populacional: a maioria dos habitantes reside em áreas rurais (87,5%). A economia baseia-se na produção e exportação de ouro, cobre, petróleo, café e cacau. A maioria dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza; a taxa de mortalidade infantil é de 49 para cada mil nascidos vivos; os serviços de saneamento ambiental são destinados a menos de 45% das residências e o índice de analfabetismo é de 45,8%.

 

  • English Lake District: O Lake District National Park é um dos treze parques nacionais do Reino Unido. Situa-se inteiramente no condado de Cumbria e é uma das raras regiões montanhosas da Inglaterra. Todas as terras inglesas com mais de 3000 pés (aproximadamente 900 metros) acima do nível do mar encontram-se neste parque, notadamente a maior montanha da Inglaterra, o Scafell Pike, com uma altura de 978 m. The Lakes (Os Lagos), como também é chamada a região, ficaram famosos durante o início do século XIX graças às poesías e escritos de William Wordsworth. Essa região descampada apresenta cenas maravilhosas para artistas e fotógrafos, e muitos visitantes são para lá atraídos em busca de uma boa caminhada. Em 2017, o Lake District Inglês foi declarado Patrimonio Mundial da UNESCO. A economia da região é totalmente focada no turismo, visto que não é mais permitido vandalizar a natureza em busca de recursos naturais, afinal o Lake District é a última região de natureza da Grã-Bretanha. Mensalmente uma média de 16.000 turistas se reúnem no Lake District para ver 5000 ovelhas e 2000 vacas, além dos lagos. Outra fonte de renda oferecida pelo parque é o comércio da venda de caras lembrancinhas aos turistas.

 

  • Lombok: é uma ilha da Indonésia, separada de Bali a oeste pelo estreito de Lombok, e de Sumbawa a leste pelo estreito de Alas. A sua capital é a cidade de Mataram. A ilha está repleta de lugares fantásticos, como praias, florestas, cachoeiras e, de quebra, o segundo maior vulcão do país. Essa grande ilha não conta com a grande fama da sua vizinha Bali, mas este aspecto conta pontos positivos para ela. O turismo parece estar no nível certo, embora já dê sinais que não vá ficar assim por muito tempo. Lombok ainda não tem a mesma exploração turística de Bali, o que é perceptível nos preços mais baixos, no apoio ao turismo essencialmente feito por locais, mas também nas poucas construções de “resorts” de luxo. A natureza e os percursos de “trekking” são os atrativos principais, além do vulcão Rinjani que, mesmo estando ativo, recebe dezenas de turistas por dia. O país é maioritariamente muçulmano – a exceção é Bali – e, por isso, é aconselhável recato.

  • Bali: é uma ilha e província da Indonésia, situada na extremidade ocidental do arquipélago das Pequenas Ilhas da Sonda, entre as ilhas de Java (a oeste) e de Lombok (a leste). A capital provincial e maior cidade da ilha é Dempassar, situada a sensivelmente a meio da costa sul no oceano pacífico. A economia de Bali gira em torno do turismo que é a sua principal fonte de rendimentos e motor do desenvolvimento. A agricultura é também uma atividade muito importante para o desenvolvimento do pais, especialmente o cultivo de arroz, de frutas ou de legumes. A pesca também é uma atividade de destaque. A ilha é um destino turístico muito popular, mundialmente famoso. É conhecida por suas manifestações culturais, como a dança, a escultura, a pintura, o trabalho em couro e metais e a música. Bali faz parte do Triangulo de Coral, uma área marítima de elevadíssima biodiversidade, onde se encontram mais de 500 espécies de coral (76% do número conhecido mundialmente). Em Bali encontra-se o sistema de irrigação subak (é o nome de um sistema de irrigação para campos alagados na ilha, que foi desenvolvido há mais de mil anos. Para os balineses, a irrigação não se constitui do simples ato de molhar as plantas, mas sim da construção de um complexo ecossistema artificial. Os campos alagados em Bali foram construídos ao redor de templos de água e a localização da água é feita por um pastor, classificado como Patrimônio Mundial pela UNESCO). Até á década de 1980, a economia balinesa baseava-se sobretudo na agricultura, tanto em termos de receitas como em termos de número de empregos. Desde o final do século XX, a atividade económica que gera mais receitas é o turismo e devido a isso Bali é uma das regiões mais ricas da Indonésia.

 

Como vimos pelas descrições acima, cada um destes países/ilhas tem suas características de preservação e conservação da natureza, que que deixaram de ser prioridade para muitos países considerados desenvolvidos, e que por isto mesmo atraem a muitos visitantes destes mesmos países, carentes de natureza silvestre. Claro que o atrativo natural sozinho não pode abrigar e acolher o turista sem o complemento e apoio de equipamentos e infraestruturas adequadas. Desta forma, investidores interessados em retorno através do turismo, constroem equipamentos para alojar, transportar e alimentar (tripé básico do turismo) nos mais diversos destinos do mundo, tornando-os mais desenvolvidos e de melhor estadia para os visitantes, mas também gerando uma nova economia local e consequente melhor qualidade de vida para os seus habitantes.

iTour: Que conselho você daria para aqueles que estão começando a estudar este tema?

Dra. Myrtis:

  • Ter conhecimento do tema através de livros, cursos e pesquisa
  • Assessorar-se com expertos nos temas específicos
  • Trabalhar em equipes multidisciplinares
  • Ajudar aos demais componentes da cadeia turística relacionados ao seu negócio a também aprender e realizar corretamente suas tarefas
  • Ser analítico nas decisões que afetam a comunidade

 

Dra. Myrtis Arrais de Souza

Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará (1981), graduação em Turismo pela Universidade de Fortaleza (1998), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992), doutorado en Planificación Territorial y Desarrollo Regional – Universidad de Barcelona (2003) Diploma de Estudos Avançados – DEA, doutorado em Integración y Desarrollo Económico – Universidad Autónoma de Madri – UAM (2014), título de doutora reconhecido pela Universidade Federal do Ceará, em dezembro de 2016. Foi professora da Estácio Faculdade Integrada do Ceará e da Universidad de Fortaleza – UNIFOR durante mais de dez anos nas áreas de economia e turismo. Tem experiência na área de Turismo, com ênfase em Pólos de Desenvolvimento, atuando principalmente nos seguintes temas: turismo e desenvolvimento, desenvolvimento endógeno, turismo sustentável, capacitação de recursos humanos e desenvolvimento econômico. Possui diversas publicações de artigos e livros nacional e internacionais nos temas que trabalha. Morou por oito anos no Chile, participando de projetos nas áreas de economia e Turismo. E-mail:myrtisarraisdesouza@gmail.com

Currículo retirado do CNPQ Lattes em 11/02/2018, certificado pela autora em 28/01/2018.

Vídeo de entrevista gravada em dezembro de 2017.

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