iTour Talk Show – Educação Superior em Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil (Português)

Keila Mota Study , , , , , ,
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Este tema foi abordado em muitas de minhas pesquisas durante o doutorado e depois em alguns artigos e várias palestras. Fiz aqui um texto em forma de perguntas e respostas para melhor esclarecimento àqueles que se interessam pelo tema da educação e da oferta de cursos superiores em Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil.

 

iTour: Quais são os níveis educacionais para quem quer estudar sobre Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil?

Keila Mota: Aprendemos sobre Hospitalidade, desde que nascemos, em nossa casa. Nossa cultura no Brasil é de receber bem quem nos visita, somos um povo muito hospitaleiro. Entretanto, estamos falando aqui de Hospitalidade no âmbito comercial, nos negócios, nos destinos turísticos. Estamos falando aqui de aprender a planejar e gerenciar o Turismo e o Lazer nos municípios que oferecem grandes atrativos a seus visitantes. Aprender a gestão de hotéis, de eventos e de Gastronomia. Aprender também para pesquisar e avançar no conhecimento científico na área. Para isso é preciso estudar. Estudar na escola, na universidade, em cursos específicos. Vamos falar dos níveis a seguir:

  • nível técnico, em cursos técnicos oferecidos por escolas técnicas, Institutos Federais, Sistema S (Sesc, Senac) e outras escolas de formação profissional; Este nível de ensino não é superior. Os cursos tem duração de meses (6 a 18 meses, geralmente).
  • nível superior, em universidades, faculdades, centros universitários, Institutos Federais, e outras Instituições de Ensino Superior com cursos autorizados e reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) que ofereçam cursos superiores de graduação do tipo Tecnológico, Bacharelado, Licenciatura. Este nível de ensino é superior e exige o segundo grau completo. Os cursos tem duração de 2 a 4 anos, geralmente).
  • nível de pós-graduação lato sensu: que significa do latim aprender em “sentido amplo”, constituído por cursos de especialização e até os  cursos do tipo “MBA” (Master Business Administration). Este nível é superior e exige um diploma de nível superior como pré-requisito. Oferecidos em em universidades, faculdades, centros universitários, Institutos Federais, e outras Instituições de Ensino Superior. Pode ser do tipo “Aperfeiçoamento” (geralmente com 180 horas) ou “Especialista” (com pelo menos 360 horas).
  • nível de pós-graduação strictu sensu: que significa do latim aprender em “sentido restrito”, constituído por cursos de Mestrado e Doutorado, com duração de 2 a 4 anos no total (geralmente), sendo 12 ou 18 meses de disciplinas e o restante do tempo para pesquisa e escrita da Dissertação de mestrado ou da Tese de doutorado. Este nível é superior e exige um diploma de nível superior de graduação como pré-requisito. Não precisa ter feito especialização para ser aceito no mestrado, mas geralmente se exige um título de mestre para ser aceito no doutorado (pelo menos no Brasil). São oferecidos em universidades, faculdades, centros universitários, Institutos Federais, e outras Instituições de Ensino Superior. Os cursos passam por autorização e reconhecimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Há também o estágio pós-doutoral ou o que chamamos de pós-doutorado ou de “pós-doc”, que é mais um tempo, formalmente supervisionado dentro de uma universidade, dedicado à aprofundamento de pesquisas. Pode durar de 12 a 18 meses (geralmente).

 

iTour: Como está distribuída a oferta de cursos superiores em Turismo, Hospitalidade e Lazer no Brasil?

Keila Mota: Isso tem variado muito. Muitos cursos foram abertos nos últimos 10 anos e agora muitos fecharam ou estam fechando. Acredito num equilíbrio entre a oferta e a demanda educacional nessa área, mas ainda estamos em fase de “ajustes”. Recentemente, em 2016, atualizamos o levantamento que fiz no doutorado em 2010, a fim de identificar e analisar a oferta de cursos de graduação nas cinco regiões do Brasil nos cursos de Turismo, Hotelaria, Gastronomia, Eventos e Lazer. Icluiram-se os cursos superiores de graduação tipo licentiatura, bacharelado, tecnológico e os quase extintos cursos sequenciais. A coleta de dados foi realizada em agosto de 2016, junto ao site do Ministério da Educação (MEC), e revelou que existem 1.032 cursos registrados oficialmente no Brasil, dos quais 164 estão em processo de extinção e 22 estão extintos. Região Sudeste responde pela maioria da oferta dos cursos com 43,13% (445); seguida da Região Nordeste com 24,90% (257); Região Sul com 15,31% (158); Região Centro-Oeste com 10,56% (109) e Região Norte com 6,10% (63). Do total encontrado, 57,1% ou 589 cursos são de Turismo; 19,7% ou 203 cursos são de Gastronomia; 10,7% ou 110 cursos são de Hotelaria; 8,9% ou 92 cursos são de Eventos; e 3,7% ou 38 cursos são de Lazer. Quanto à modalidade, 97% são presenciais, sendo 46,8% bacharelados e 51,36% tecnológicos. Só existem duas licenciaturas ofertadas no Rio de Janeiro. Leia mais sobre isso na minha segunda tese de doutorado e nos artigos, citados a seguir.

Fonte: artigo na Revista Turismo e Desenvolvimento (RT&D), de Portugal: Mota, K. e Almeida, J., Educação superior em turismo, hospitalidade e lazer no Brasil: Análise do panorama de cursos ofertados frente ao contexto contemporâneo. n.26, 2016. Link:

http://revistas.ua.pt/index.php/rtd/article/view/6197

Veja também:

Tese de Doutorado, Mota, K. C. N.: Educação superior em Turismo no Brasil: análise dos cursos no contexto contemporâneo e a oferta tecnológica nos Institutos Federais no Nordeste. Link:

http://siaibib01.univali.br/pdf/Keila%20Cristina%20Nicolau%20Mota1.pdf

 

Artigo na Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo (RbTur), Mota, K. C. N. e Anjos, F. A.,  Educação Superior em Turismo no Brasil: Análise da Oferta de Cursos Superiores no Nordeste Brasileiro pelos Institutos Federais. v. 6, n.1, 2012. Link:

https://www.rbtur.org/rbtur/article/view/461

 

 

iTour: Como saber em qual universidade estudar e se o curso de graduação tem reconhecimento do Ministério da Educação para continuar funcionando no mercado?

Keila Mota: Muito importante o aluno saber sobre isso. Cuidado! Existem cursos de graduação autorizados pelo MEC, funcionando, mas sem reconhecimento do MEC, portanto não podem emitir o Diploma. Existem cursos autorizados e reconhecidos pelo MEC, porém sem demanda suficiente para ofertar todos os semestres, o que compromete a finalização do curso pelo aluno. Meu conselho seria que você converse com seu (sua) coordenador(a) de curso e seu (sua) diretor(a) de ensino, verifique no site do MEC a situação de seu curso e de sua Instituição de Ensino Superior (IES). Sugiro que faça uma consulta no site do MEC (http://emec.mec.gov.br/) pois esses dados são públicos. Negocie para que você termine seu curso da forma que foi anunciada quando você ingressou. Outra coisa importante também é saber o conceito do curso e da IES que você já estuda ou pretende estudar, cuja nota máxima é 5. Escolha as melhores por critérios de qualidade, conforme o MEC e o INEP, por critérios de mercado como tempo de existência, tradição, conceito na cidade, empregabilidade dos ex-alunos e outros. Vá em frente! Estudar é importante.

iTour: Como saber em qual curso ou universidade posso fazer um curso de Mestrado ou Doutorado na área de Turismo e Hospitalidade?

Keila Mota: A qualidade do curso e o envolvimento dos professores pesquisadores é fundamental para que você faça um bom curso de Mestrado (acadêmico ou professional) ou Doutorado no Brasil. Como já foi dito, os cursos desse nível educacional passam por um rigoroso controle de qualidade, para sua autorização e seu reconhecimento ou recomendação na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Somente cursos recomendados/reconhecidos com nota igual ou superior a 3 (as notas podem chegar a té 7) pela CAPES (novos cursos) ou renovação de reconhecimento (cursos em funcionamento) pelo Conselho Nacional de Educação (CNE/MEC) podem emitir diploma. Sugiro consultar o site da CAPES e ver os cursos recomendados por “área de avaliação”, “nota” ou “região” no link a seguir:

http://capes.gov.br/cursos-recomendados/

 

Para consultar por região veja na plataforma sucupira no link a seguir:

https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoRegiao.jsf;jsessionid=IpC19tcuSCVdbQWNHKsjYjWE.sucupira-213

Fiz uma pesquisa por área de avaliação no link a seguir e a área do “Turismo” conta hoje (fevereiro de 2018) com 11 cursos avaliados, sendo 4 doutorados, 3 mestrados profissionais e 4 mestrados acadêmicos. Link:

https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoIes.jsf?areaAvaliacao=27&areaConhecimento=61300004

Você também pode pesquisar a disponibilidade de bolsas de estudo e auxilios internacionais no site da CAPES. Os cursos podem ter valores bem altos, porque também custam caro para atender a todos os critérios exigidos em termos de número de docentes, livros, bases de dados, equipamentos, instalações e outros.

Outra boa fonte de pesquisa é consultar os associados da Associação dos Programas de pós-graduação em Turismo (ANPTUR), que tem como missão “reunir as instituições brasileiras que mantêm Programas de Mestrado e/ou Doutorado em Turismo, Hotelaria, Lazer ou áreas afins, representando os seus interesses, especialmente no que concerne à formulação da política educacional de educação e pesquisa, ao estabelecimento de objetivos e padrões de excelência educacional, e à captação de recursos e incentivos para o desenvolvimento da pesquisa e do ensino de pós-graduação em Turismo no Brasil”. Link:

https://www.anptur.org.br/portal/wiew/others-information/mission.php

Vale a pena participar dos seminários da ANPTUR que acontecem todo ano no segundo semestre.

iTour: O curso de Turismo vai acabar? Considerando o baixo número de alunos em alguns cursos e a extinção de vários cursos de Turismo.

Keila Mota: Não. O curso de Turismo não vai acabar, mas muitos cursos estão sendo extintos e a área passa por um ajuste necessário. Primeiro, porque houve uma expansão exagerada da oferta de cursos, sem um gerenciamento maior que pudesse considerar um adequado planejamento do quantitativo da oferta de cursos em cada região do Brasil; Segundo, porque muitas faculdades novas (privadas) aproveitaram o momento de possibilidade de expansão da oferta da educação superior (início dos anos 2000), facilitado pelo MEC/INEP, para abrir vários cursos (visando o lucro), inclusive os de Turismo;  Terceiro, porque se equivocaram no tipo de curso, abrindo primeiro o bacharelado em Turismo e depois, viram que “mercadologicamente” seria mais viável fechar o bacharelado e abrir um curso do tipo tecnológico, seja ele em Turismo ou em outra área semelhante que estivesse mais “na moda”, como o curso de Gastronomia, por exemplo, que cresceu muito a sua oferta nos últimos anos. Por fim, mas não limitado a isso, houve um ajuste natural de que as Instituições de Ensino Superior públicas (que são minoria) seriam mais adequadas para ofertar um curso de bacharelado em Turismo, seguido por um curso de Mestrado e Doutorado em Turismo, do que as faculdades privadas e centros universitários (recém criados). A pós-graduação em Turismo, assim como a pesquisa em Turismo, cresce (principalmente nas universidades públicas), apesar dos pesares. Demanda tem, para cursos de qualidade, com foco e projeto pedagógico adequado para a região. Estavam em funcionamento no Brasil em 2016, 589 cursos de Turismo de graduação e a maioria vai continuar existindo, se mantiver o nível de qualidade educacional. Também é preciso considerar muitos outros fatores conjunturais como o déficit educacional brasileiro, crise econômica que o país atravessa desde 2014, legislação educacional, mercado de trabalho e outros.

iTour: Quem é o profissional de turismo e quem é o turismólogo? Quais outros termos e denominações ligados á área?

Keila Mota: O termo “Turismólogo” foi escolhido pela Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo (ABBTUR) como o mais adequado para designar o exercício profissional daqueles que legalmente teriam o direito de exercer a profissão de atividades ligadas ao turismo: os bacharéis em Turismo.

Após anos de atuação, houve a conquista da lei do Dia do Bacharel em Turismo (27 de setembro, mesmo dia em que se comemora o dia mundial do turismo), instituído pelo Presidente da República através da Lei nº 10.457, de 14 de maio de 2002 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10457.htm) .

O profissional de Turismo e áreas afins, é aquele que atua no exercício profissional de atividades ligadas direta ou indiretamente ao fenômeno do Turismo, quer seja ele bacharel em turismo ou não.

Turismólogos seriam os Experts em Turismo, responsáveis legais por projetos específicos do turismo, exercendo cargos de gerência, diretoria, planejamento, docência superior e outros de maior exigência intelectual.

Conforme a Lei 12.591, de 18 de janeiro de 2012, que reconhece a profissão de Turismólogo e disciplina o seu exercício, em seu  Art. 2o, consideram-se atividades do Turismólogo: 

I – planejar, organizar, dirigir, controlar, gerir e operacionalizar instituições e estabelecimentos ligados ao turismo; 

II – coordenar e orientar trabalhos de seleção e classificação de locais e áreas de interesse turístico, visando ao adequado aproveitamento dos recursos naturais e culturais, de acordo com sua natureza geográfica, histórica, artística e cultural, bem como realizar estudos de viabilidade econômica ou técnica; 

III – atuar como responsável técnico em empreendimentos que tenham o turismo e o lazer como seu objetivo social ou estatutário; 

IV – diagnosticar as potencialidades e as deficiências para o desenvolvimento do turismo nos Municípios, regiões e Estados da Federação; 

V – formular e implantar prognósticos e proposições para o desenvolvimento do turismo nos Municípios, regiões e Estados da Federação; 

VI – criar e implantar roteiros e rotas turísticas; 

VII – desenvolver e comercializar novos produtos turísticos; 

VIII – analisar estudos relativos a levantamentos socioeconômicos e culturais, na área de turismo ou em outras áreas que tenham influência sobre as atividades e serviços de turismo; 

IX – pesquisar, sistematizar, atualizar e divulgar informações sobre a demanda turística; 

X – coordenar, orientar e elaborar planos e projetos de marketing turístico; 

XI – identificar, desenvolver e operacionalizar formas de divulgação dos produtos turísticos existentes; 

XII – formular programas e projetos que viabilizem a permanência de turistas nos centros receptivos; 

XIII – organizar eventos de âmbito público e privado, em diferentes escalas e tipologias; 

XIV – planejar, organizar, controlar, implantar, gerir e operacionalizar empresas turísticas de todas as esferas, em conjunto com outros profissionais afins, como agências de viagens e turismo, transportadoras e terminais turísticos, organizadoras de eventos, serviços de animação, parques temáticos, hotelaria e demais empreendimentos do setor;  

XV – planejar, organizar e aplicar programas de qualidade dos produtos e empreendimentos turísticos, conforme normas estabelecidas pelos órgãos competentes; 

XVI – emitir laudos e pareceres técnicos referentes à capacitação ou não de locais e estabelecimentos voltados ao atendimento do turismo receptivo, conforme normas estabelecidas pelos órgãos competentes; 

XVII – lecionar em estabelecimentos de ensino técnico ou superior; 

XVIII – coordenar e orientar levantamentos, estudos e pesquisas relativamente a instituições, empresas e estabelecimentos privados que atendam ao setor turístico. 

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12591.htm

  

Há ainda outros termos menos utilizados sobre a área do Turismo. Alguns estudiosos do Turismo, como o prof. Mário Beni, mencionam o termo “Teorólogo” ou “Teorologia” como sendo o estudo do turismo, pois Teóros (do grego) significa o homem que viaja e Logos o estudo. Há também o termo “Turismologia” para especificar os estudos no Turismo na ciência. Outro termo ligado à área do turismo é “turistólogo”, que foi utilizado por Margarita Barretto para designar aqueles profissionais provenientes de cursos técnicos ou de tecnólogo em turismo. Para ela, as atividades profissionais exercidas por esse profissional seriam nas mesmas áreas do turismólogo só que em nível médio de responsabilidade compatível com a educação recebida. A seguir exemplos de áreas e respectivos níveis de ocupação do turistólogo: planejamento geral – chefias médias de departamentos; Recursos e atrativos turísticos – inspetores de recursos naturais/culturais; facilidades: oferta alimentar, alojamento, transporte – subgerentes, chefes de seção, supervisores; entre outros.  

Entretanto, como existe o reconhecimento mas não existe a regulamentação profissional no âmbito legal, até o momento, o termo “turismólogo” vem sendo utilizado na academia e no mercado para diferenciar aqueles que têm formação acadêmica superior especificamente na área do Turismo, daqueles que não o têm.

Nesse momento, surge outro impasse em relação à formação dos profissionais que trabalham com o Turismo: poderiam ser chamados de turismólogos aqueles profissionais com formação de graduação em outras áreas e pós-graduação, lato sensu ou stricto sensu, em Turismo? Ora, se o termo turismólogo foi criado para designação do exercício profissional e não da formação, a resposta seria sim. Apesar de vários projetos de lei já apresentados para a regulamentação da profissão, ainda não se tem uma reserva de mercado, garantida pela regulamentação legal da profissão, exclusivamente para bacharéis em Turismo, a resposta é sim. Inclusive para aqueles que têm formação em outras áreas, mas exercem a profissão há vários anos, com ética e vêm contribuindo para o desenvolvimento da qualidade profissional em diversos aspectos. Isso estava na Lei de reconhecimento da profissão mas foi vetado. A presidenta vetou os artigos 1, 3, 4 e 5 do projeto de lei com o argumento baseado na Constituição brasileira em vigor: “A Constituição, em seu art. 5o, inciso XIII, assegura o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, cabendo a imposição de restrições apenas quando houver a possibilidade de ocorrer algum dano à sociedade.” Para mim, um dos maiores Turismólogos desse país, reconhecido nacional e internacionalmente, que atua na área científica e de gestão política para o Turismo no Brasil, é o professor Mario Beni, cuja formação é de graduação em Ciências Jurídicas, mestrado em Ciências Sociais, Doutorado em Ciências da Comunicação, os quais não incluem a palavra “Turismo”, apesar de suas pesquisas tratarem de áreas do Turismo.

Entretanto, como já foi dito, tornou-se senso comum chamar de “turismólogo” aqueles que têm formação acadêmica superior especificamente na área do Turismo e afins, seja graduação em Bacharelado ou em Curso Superior de Tecnologia na área. Portanto, cuidado na elaboração de editais de concursos públicos ou seleção em empresas privadas para tartar exigências nesse tema. O ideal seria deixar tudo bem especificado em termos de nível de curso, tipo de curso, área ou nome de curso requerido ou de qualificação profissional exigida.

Acredito que devido à formação específica na área de Turismo e áreas afins, em níveis técnico, de graduação e/ou de pós-graduação, os profissionais formados na área do Turismo seriam os mais adequados para dar conta da multiplicidade de fatores que envolvem o fenômeno do Turismo e atuar com a competência específica requerida na área. Isso não excluiria profissionais de outras áreas que trabalham com o Turismo e áreas afins, integrando equipes multidisciplinares e contribuindo e muito com o desenvolvimento e consolidação das atividades ligadas ao turismo no mercado.

Nesse sentido, cursos de várias áreas vêm inserindo, direta ou indiretamente na formação de seus alunos, disciplinas específicas do Turismo (como as de Planejamento e Organização do Turismo, Teoria Geral do Turismo, Ecoturismo, Análise Estrutural do Turismo, Economia do Turismo, Hospitalidade e outras), com o objetivo de ampliar sua área de atuação e compor equipes multidisciplinares para o desenvolvimento de projetos e ações ligados ao turismo.

Um belo comentário sobre a questão da regulamentação da profissão de Turismólogo foi postado em 19/01/2012 pelo prof. Luiz Trigo, acreditando que não precisamos de regulamentação:

“(…)É disso que precisamos, de reconhecimento por parte da sociedade e do mercado e não de uma “regulamentação” falsa e meramente formal, dada a contragosto, de maneira inócua, estéril. Não precisamos disso, nosso reconhecimento social e profissional, político e cultural, se dará somente pelos esforços comuns em busca da excelência e da seriedade profissional, Com ética, fundamentos conceituais e metodológicos sólidos, com visão clara e inovadora do presente e do futuro.

Se almejamos um turismo respeitado neste país, temos que lutar pela qualidade técnica e holística de nossos estudantes e profissionais, em todos os setores da sociedade. Temos que desenvolver suas habilidades e competências, exercitar sua consciência e criticidade, enxergar os verdadeiros desafios e os caminhos férteis do futuro e abandonar as trilhas estéreis de um passado distante. Há uma guerra a fazer, e nós a faremos. Por um turismo aberto, dinâmico, inovador e com suas sementes plantadas no futuro de nossos sonhos e nas imensas possibilidades, sempre ampliadas”. (Fonte: http://luiztrigo.blogspot.com/2012/01/regulamentacao-do-turismologo-enganos-e.html , acesso em 28 de fev. de 2018)

 

iTour: Explique sobre a importância da educação no contexto da era da informação na sociedade em que vivemos.

Keila Mota: Essa é uma questão muito complexa. Vou fazer aqui uma breve explicação que não vai abordar tudo mas vou tentar dar uma visão geral. Nossa sociedade hoje, em pleno século XXI, é profundamente afetada pelo paradigma da informação e pelo processo de globalização, que causaram transformações tecnológicas e administrativas do trabalho e das relações produtivas. Na chamada nova economia, a geração de conhecimento, advinda do processamento de informações, é fonte de produtividade e crescimento. Nessa era da Informação, que vivemos desde o final do século XX, caracterizada por grandes e rápidas mudanças, vive-se num ambiente turbulento, imprevisível, baseado em conhecimento, tecnologia e inovação.

A globalização da economia diminuiu as fronteiras geográficas e políticas aumentando a intensidade e complexidade da competitividade organizacional. Uma época onde a informação em tempo real passou a transformar informações em oportunidades tanto no mercado de capitais como em inovação de produtos e serviços. O capital financeiro deixou de ser o recurso mais importante, cedendo lugar ao conhecimento, valorizando o capital humano ou capital intelectual. Os empregos migraram do setor industrial para o setor de serviços, o trabalho humano foi direcionado para operar máquinas de última geração, caracterizando o surgimento da sociedade pós-industrial, baseada em conhecimento. 

Nesse contexto, as organizações necessitaram de mais agilidade, inovação e conhecimento para sobreviverem. Diminuíram-se os níveis hierárquicos, descentralizaram-se as decisões, formaram-se equipes multifuncionais provisórias. Mudaram-se os conceitos de tempo e espaço, virtualizando-se produtos e serviços, com cadeias produtivas totalmente interligadas eletronicamente, garantindo rapidez, customização e baixo custo aos consumidores finais. Assim, a administração de recursos humanos passou a uma nova concepção de gestão de pessoas, onde os indivíduos são vistos como parceiros da organização. As pessoas são abordadas como seres inteligentes e singulares, dotadas de personalidade, conhecimento e habilidades capazes de sustentar a organização num ambiente turbulento e mutável.

Destaca-se que toda essa mudança traz em si graves problemas estruturais para a sociedade, intensificando a necessidade de atualização profissional e educação continuada com vistas à empregabilidade dos indivíduos. Abismos sociais no Brasil criam novos conceitos de analfabetismo e exigem agilidade nas ações governamentais para reduzir a exclusão digital. Principalmente os jovens de classe baixa e idosos precisam entrar em contato rápido com as novas tecnologias para não serem excluídos socialmente e ficarem à margem dos novos paradigmas.

 Um caminho viável para essa questão, em paralelo às questões da alimentação, saúde, transporte, moradia e segurança, que também são básicas para qualquer sociedade, seriam investimentos em educação, com a formação de recursos humanos capazes de produzir mais e melhor, valendo-se das vantagens advindas do uso adequado da tecnologia. Mas isso só poderá acontecer, de forma ampla no Brasil, com investimentos e com a difusão do conhecimento para todos, chegando ao ponto onde as sociedades fossem capazes de direcionar seus recursos na aplicação de métodos inovadores que aumentem a produtividade em diferentes atividades econômicas.

Assim, pode-se admitir que essas mudanças são revolucionárias e irreversíveis para a sociedade e faz-se necessário que o esclarecimento, a adaptação, os investimentos e a qualificação dos recursos humanos sejam direcionados da forma mais rápida e ampla quanto possível para que o Brasil (e os brasileiros) não fique à margem desse processo de desenvolvimento.

Dra. Keila Cristina Nicolau Mota

Pós Doutorado em Turismo e Hotelaria pela (UNIVALI) (2013), Doutorado em Administração e Turismo (2011) e Doutorado em Turismo e Hotelaria (2005) ambos pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI/SC), Mestrado em Administração (1999) pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Graduação em Turismo (1991) pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Atualmente é docente e pesquisadora licenciada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Co-Lidera o grupo de pesquisa e atua na graduação e pós-graduação presencial e EaD. Co-editora da Revisita Brasileira de Pesquisa em Turismo (RBTur) em 2014-16. Integra o Conselho de Revisores Científicos (Referees) da Revista Turismo & Desenvolvimento editada pela Universidade de Aveiro – Portugal, da Revista Turismo em Análise da Universidade de São Paulo (USP), da Revista Turismo Visão e Ação da UNIVALI e da Revista Turismo e Sociedade da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Autora, co-autora e organizadora de 13 obras impressas publicadas no Brasil, além de vários artigos científicos e trabalhos em congressos e eventos. Tem experiência nas áreas de Turismo, Hotelaria e Gestão da Educação, junto a Instituições de ensino superior e ao Ministério da Educação. Atua principalmente nas áreas de Turismo, Hotelaria e Gestão em: Educação Superior, Marketing turístico, Gestão de Negócios e Competitividade de destinos turísticos. Autora do site e blog www.myitour.com.

Currículo retirado do CNPQ Lattes em 11/02/2018, certificado pela autora em 11/02/2018

3 comments

  1. Querida Keila ,
    Obrigada por proporcionar aos futuros turismologos as informações necessárias para o entendimento e o esclarecimento do profissional de turismo .
    Estarei sempre em sua página virtual buscando a cada dia orientações para o mestrado e futuro doutorado .
    Grata por sua dedicação ao Turismo e aos Turismologos .
    Um grande abraço!

  2. OBRIGADA PROFESSORA,
    UM BOM ESCLARECIMENTO PARA QUEM PROCURA INGRESSAR NA ÁREA E PARA QUEM JÁ SE ENCONTRA NELA, COM AS PALAVRAS DE LUIZ TRIGO: ” PRECISAMOS DE RECONHECIMENTO E NÃO DE REGULAMENTAÇÃO”.

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